Há roupas que falam. Outras, sussurram.
E há Le Silence — a camisa que escuta.

Quando a concebemos, não queríamos apenas uma peça de roupa. Queríamos uma ausência. Um espaço em branco no roteiro. Um silêncio que, ao ser vestido, não desaparecesse — mas ganhasse forma.

É curioso: a primeira vez que Ferdinand surgiu em frente à câmera, ele usava Le Silence. O plano era simples. A luz, difusa. A fala, suspensa. Protagonista observado pelo reflexo de um quadro. Era como se a própria camisa marcasse o início de algo — um filme, talvez; ou o instante anterior ao primeiro pensamento.

A modelagem é limpa, sem excesso. Mangas curtas, corte reto, mas com a leveza do que não se impõe. O tecido? Um viscolinho cuidadosamente escolhido, com textura suave e discreta — quase uma pele alternativa. Ela é marfim, é claro. A cor que menos grita e remete ao papel em branco onde Ferdinand escreveria sua obra-prima. Por isso, dizemos: Le Silence é a peça essencial de todo artista.

Costuramos cada peça com um pequeno desejo: que ela funcione como abrigo para o olhar e para o gesto. Que ela seja essencial, mas nunca óbvia. Que sua presença seja como a de uma boa trilha sonora — quase imperceptível, mas transformadora.

No figurino de O Som é Translúcido, Le Silence não é apenas uma camisa: é o tempo entre um pensamento e outro. É o intervalo entre uma frase e a próxima imagem. É, talvez, o próprio corpo do filme.

Porque há silêncios que precisam ser ditos.
E outros… que precisam ser vestidos.